Casa Vogue

Vento, pedra e mar

TEXTO HANNA MARTIN FOTOS MIGUEL FLORES-VIANNA

A família do artista plástico Bosco Sodi escolhe a paisagem rochosa da Ilha de Folegandros, na Grécia, para passar as férias

DURANTE UMA VIAGEM DE BARCO PELA GRÉCIA, O ARTISTA PLÁSTICO BOSCO SODI EA DESIGNER DE INTERIORES LUCIA CORREDOR SE APAIXONARAM PELA PAISAGEM ROCHOSA DA ILHA DE FOLEGANDROS .O LUGAR AGORA ABRIGA O CONJUNTO DE CONSTRUÇÕES, FEITAS COM MATERIAIS DA REGIÃO, ONDE OS DOIS PASSAM AS FÉRIAS

OS INTERIORES GANHARAM PERSONALIDADE COM A JUNÇÃO DOS TALENTOS DO CASAL: AS OBRAS DE ARTE DELE PREENCHEM PAREDES E ESTANTES EOS MÓVEIS GARIMPADOS POR ELA ACRESCENTAM UM CHARME MID-CENTURY AOS ESPAÇOS

Oartista mexicano Bosco Sodi e sua mulher, a designer de interiores Lucia Corredor, pisaram pela primeira vez em Folegandros, uma tranquila ilha das Cíclades, no Mar Egeu, durante uma viagem de barco em 2017. Arrebatados pela beleza rústica da região (diz-se que seu nome vem de uma palavra fenícia que significa “terra coberta de rochas”), decidiram permanecer uma noite a mais. No porto, na manhã seguinte, Sodi deu uma olhada nas listas de imóveis à venda. “No final da ilha havia uma pequena baía com uma bela igreja e nada mais”, conta. Depois de uma rápida visita ao terreno, ele não hesitou. “Disse que compraria.”

Estabelecer-se num lugar acidentado não era novidade para o casal: os dois iniciaram uma obra em Puerto Escondido, um ponto de surfe disputado em Oaxaca, no México, dez anos antes, quando uma simples ida ao supermercado exigia rodar 24 km por estrada de terra. Sodi transformou a faixa ao longo do Pacífico na Casa Wabi, um misto de residência artística e maravilha arquitetônica, que abriga estruturas projetadas por Tadao Ando, Álvaro Siza, Kengo

Kuma e Alberto Kalach. É lá que o artista cria suas telas feitas de barro, serragem, látex, cola e pigmentos, bem como as esferas de argila que deixa secar e rachar ao sol.

Em Folegandros, Sodi e Lucia queriam, mais uma vez, que a paisagem fosse o ponto de partida para o projeto. “Há três tipos de licença na Grécia”, explica Sodi. “Você pode erguer uma casa branca típica de 150 m², uma de pedra de 180 m² ou escavar a montanha – nesse caso, é permitido construir 50% a mais.” Eles escolheram a terceira alternativa, uma das especialidades do mexicano Carlos Loperena, do Deca Architecture, contratado para a missão. Depois de várias visitas à propriedade para determinar o lugar ideal (o vento é um fator crucial nessa ilha particularmente tempestuosa), o arquiteto, sua equipe e o empreiteiro local Babis Gartaganis começaram a trabalhar.

Blocos de calcário verde foram retirados da encosta, uma antiga pedreira, e empilhados em paredes, que, juntamente com placas moldadas de concreto, dão origem a uma série de estruturas embutidas no relevo. “De longe, parece uma pequena cidade”, comenta Lucia. “Você vê as casinhas e o pátio principal com as oliveiras.” Para quem olha de

dentro para fora, as janelas emolduram a baía e o mar aberto. “Queríamos fazer algo muito simples, usando o máximo de materiais naturais possível”, pontua Sodi.

Na criação dos interiores, o Decada, escritório de design de Lucia, com sede na Cidade do México, adotou uma abordagem semelhante. A maior fonte foram os negócios locais. “Essas almofadas vieram do posto de gasolina”, diz ela, com uma risada, sobre as peças de tecido usadas na área da churrasqueira. O estabelecimento, na verdade, dispõe de uma espécie de loja de conveniência que vende de tudo, onde a moradora comprou ainda o bambu das coberturas, cestos e até galinhas. Diversos materiais foram coletados pela propriedade. Com a ajuda de Miri Pura, o caseiro, as tábuas de pinho que moldaram as paredes de cimento viraram mesas e bancos; troncos e galhos recolhidos pelo terreno foram polidos e transformados em banquinhos. Essas peças rústicas se misturam a móveis consagrados do modernismo dinamarquês, como as cadeiras de Hans Wegner, na área de jantar, e de Kai Kristiansen, no quarto.

Pela casa, há outros achados das redondezas – objetos que o casal recolhe em suas caminhadas pela ilha. Galhos elegantemente retorcidos, que vão parar na decoração dos ambientes, e minerais que os dois chamam de scholar stones (o nome faz referência ao termo coreano que significa, ao mesmo tempo, “rochas de formato similar a paisagens” e “a arte de apreciar as pedras”). A terra de onde brotam esses tesouros também dá outros frutos: a família plantou oliveiras e um vinhedo e pretende ampliar a quantidade de espécies nativas distribuídas pelo lote. “Compramos 90 kg de sementes diferentes e contratamos um especialista em botânica”, relata o artista. Desse modo, os novos habitantes deixam sua marca nas feições da ilha.

Além do complexo que acaba de ser construído, um passeio até o mar revela a antiga morada de pescador, aproveitada como ponto de apoio. Ali, as paredes exibem o mesmo visual envelhecido das pinturas de Sodi. Está nos planos do artista experimentar os materiais de Folegandros. “A serragem aqui é diferente, o que muda a reação com os pigmentos e a forma como as obras vão secar e rachar”, explica. Seus métodos de produzir arte e construir casas não são tão diferentes, afinal. “É uma abordagem muito casual”, diz ele sobre ambos. “Aproveito o acaso. Faço as coisas por instinto, guiado pelos deuses.”

“FIZEMOS UM LUGAR PARA RECARREGAR AS ENERGIAS NA COMPANHIA DA FAMÍLIA E DOS AMIGOS” BOSCO SODI

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2022-11-04T07:00:00.0000000Z

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