Casa Vogue

Em paz com o tempo

Seduzido pela ideia de ter um refúgio junto ao mar próximo à capital paulista, o arquiteto Arthur Casas desenhou esta casa no Guarujá há quase 18 anos. Pouca coisa mudou por ali desde então –e isso é um ótimo sinal

TEXTO LARA MUNIZ FOTOS FERNANDO GUERRA/DIVULGAÇÃO

A morada no litoral paulista que o arquiteto Arthur Casas desenhou para si há quase duas décadas sobrevive bem ao passar dos anos

Acima, o living, integrado ao exterior, abriga peças de mobiliário desenhadas pelo arquiteto, como a mesa de apoio de mármore Ettore (em primeiro plano), para o Studio Objeto, e os sofás Fusca, para a Micasa – no alto do ambiente, a passarela de 10 m de extensão conecta os dois volumes da casa. Na pág. seguinte, as poltronas José Ignácio, a mesa Antigua e o assento solto Macarron, tudo design Arthur Casas para o Studio Objeto, compõem uma área de estar sobre o deque, envolto pela vegetação: antes do início da obra, uma avaliação do terreno revelou a existência de Mata Atlântica primária no local e, com base nessa informação, foi traçado um projeto de impacto reduzido, que ocupa menos de um quinto do lote

“O senso comum diz que é difícil para um arquiteto desenhar a própria casa, mas o projeto saiu praticamente pronto na primeira tentativa. Talvez porque ele esteja na Mata Atlântica, a paisagem brasileira que mais prezo” ARTHUR CASAS

Até a Praia de Iporanga, a caminhada é de pouco mais de 1 km. A faixa de areia escondida, pequena e com mar calmo, no entanto, encontra concorrência à altura na morada de 400 m² que Arthur Casas construiu quase num impulso. “O plano original era erguer um lugar em Ilhabela, onde eu já tinha um terreno. Visitei o Guarujá para atender um cliente e acabei seduzido pela conveniência de estar mais perto de São Paulo”, conta, satisfeito com a decisão.

A cada 15 dias, ele se recolhe por lá, muito bem acompanhado por uma trilha sonora que inclui Jaques Morelenbaum, Tiganá Santana e Virgínia Rodrigues. “Gosto de músicas cantadas em português, escuto pouca coisa estrangeira”, afirma. A brasilidade admirada na vitrola é a mesma que encanta os olhos do arquiteto, fascinado pela exuberância da Mata Atlântica. Tanto que o desenho da casa de estrutura mista – parte metálica, parte alvenaria – reproduz praticamente um caixote aberto em duas faces para a vegetação do terreno. Vez ou outra, a natureza mostra sua presença com mais veemência, na forma de um bicho-preguiça pendurado num galho próximo, de um calango dentro da sala ou das incontáveis espécies de aves que visitam o quintal. Todos bem-vindos. Feita para interferir o mínimo possível na paisagem, a construção ganhou fachada de madeira queimada justamente para se camuflar em meio às árvores. Mesmo os componentes metálicos aparentes repetem o tom para não destoar do conjunto.

Para Arthur, um fim de semana perfeito no litoral começa com o trajeto de 9 km que ele gosta de fazer a pé pelas manhãs. Na volta, se há algum trabalho a terminar, ele se debruça sobre a prancheta e liga o som. “Eu me acostumei a desenhar com música, rendo mais do que no silêncio”, reflete. A cozinha, para ele, é território inóspito. Sobra para a namorada, formada em gastronomia, que cumpre a tarefa com prazer e primor. É uma vida leve, diferente da rotina em São Paulo ou Nova York, onde o profissional mantém uma filial de seu escritório.

Erguida no início dos anos 2000, a obra se tornou uma das mais reconhecidas do arquiteto e está envelhecendo bem. Fora intervenções pontuais de manutenção, como a troca dos tecidos do mobiliário, nada mudou desde então. Isso se deve ao caráter duradouro do projeto, definido por linhas retas, volumes simétricos, grandes aberturas, que favorecem a iluminação e a ventilação naturais, e uma distribuição racional dos espaços: de um lado, ateliê e suíte principal; do outro, quartos de hóspedes em cima, cozinha aberta para o deque embaixo. Alcançar essa clareza, porém, requer experiência. “Acho que conceber a casa foi fácil porque já tinha passado dos 40 quando a desenhei. Convivo bem com as coisas que tenho feito na maturidade. Acredito nas pátinas que a vida sutilmente nos acrescenta”, arremata.

“Meus trabalhos recentes mais inspirados nasceram em cima desta prancheta, com vista para a mata. Sou um tanto analógico, ainda gosto de desenhar no papel ” ARTHUR CASAS

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2022-11-04T07:00:00.0000000Z

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