EDITORIAL

Sempre que o ano se encaminha para o final, as temperaturas sobem e uma miragem do que ainda é possível chamar de férias surge no horizonte, uma mesma canção ecoa na minha cabeça: “Summertime, and the living is easy...”. Tanto faz se nas vozes de Ella e Louis, Billie, Janis, Lana (faça um favor a si mesmo e ouça a versão do Sam Cooke). Não que a vida esteja particularmente fácil neste momento, com guerras e tragédias humanitárias em outros cantos do planeta (e neste também, diga-se de passagem), mas se não pudermos sequer ansiar por um tempo mais tranquilo, de nada vale o trabalho que fazemos nesta revista.

Além do gatilho musical, a iminência do verão dispara outro, editorial, na redação da Casa Vogue: é hora de desengavetar todas as casas de praia maravilhosas que guardamos ao longo dos últimos meses e escolher aquelas que mais nos farão sonhar com momentos de paz à beira-mar na próxima estação. Com tanto projeto bom e tão poucas páginas para apresentá-los a contento, não é uma seleção simples. Experimente você apontar um preferido, entre o refúgio-mirante de Julia Weisheimer de Aguiar no litoral catarinense (pág. 66), a casa abraçada pelas árvores de David Bastos no Guarujá, SP (pág. 86), a construção de estilo náutico de Eugenio Minerva na Puglia (pág. 76) e a monumental Rotonda, da heroína italiana Cini Boeri, na Sardenha (pág. 56). Ou talvez você prefira a ilha na Costa Verde habitada pelas criações muito particulares do Estúdio Orth, cujo design único e o carisma de seus líderes, Seba e Luísa, os levaram à seção Em casa com (pág. 28).

Como o tema praiano, para a maioria dos nossos leitores, sempre envolve deslocamento rumo a alguma região costeira, é também momento de abrirmos espaço para boas pautas de viagem. Que tal uma incursão a Fernando de Noronha, PE, pela ótica da Casa Vogue ?A reportagem exclusiva de Mariana Conte e André Klotz (pág. 44) revela preciosidades históricas, arquitetônicas e gastronômicas do arquipélago pernambucano de geografia vulcânica arrebatadora. Retornando a São Paulo, mas sem nunca tirar os olhos do mar, inspiração máxima dos designers Carlos, Diego e Gregorio Motta, ainda tivemos a oportunidade única de mergulhar no universo da família em que o design corre nas veias, pela visão de Giuliana Capello e Wesley Diego Emes (pág. 38).

De volta aos gatilhos, jamais será prudente ou sábio ignorar aqueles sendo puxados na Faixa de Gaza, na Ucrânia ou no Brasil. Mas temos de almejar ao menos uma promessa de dias melhores, mesmo (ou em especial) para aqueles mais atingidos pela violência. É preciso ter algo com o que sonhar para quando a guerra acabar. A música costuma nos oferecer o escape mais fácil e acessível (toda arte, na verdade). A arquitetura, ainda mais aquela em comunhão com a natureza, como a que destacamos nas páginas a seguir, também. Melhor, só se a solução dos conf litos vier já antes do verão. Boa leitura. ●